Em 2008, a ação de governos e bancos centrais foi determinante para a superação da crise. Mesmo sendo de naturezas diferentes, afetando aspectos sociais e econômicos distintos, na situação atual causada pelo novo coronavírus, os olhos (e as esperanças) do mundo estão voltados para o setor público.
E para analisar os impactos das respostas governamentais no calor dos fatos, o com:unidade – Iniciativas FDC para tempos desafiadores convidou o professor de estratégia e finanças da Fundação Dom Cabral Gilmar de Melo Mendes. Ele é Doutor em Economia e Administração de Empresas e Mestre em Economia Financeira e Contabilidade, ambos pela Universidad de Valladolid, Espanha, e MBA em Economia, Finanças e Negócios Empresariais pela FGV/RJ e concentra uma ampla experiência no setor público tendo ocupado cargos de grande relevância.
O protagonismo das ações de governo
O recorte do primeiro trimestre pré-Covid mostrava um Brasil em processo de franco crescimento com uma alta média 3% do PIB. Diferente do mundo – que já entrava em desaceleração – o país começava a colher frutos das primeiras reformas e iniciativas de reorganização econômica. Embora já sejam sentidos os danos causados pelas inevitáveis medidas de contenção ao novo vírus, segundo o professor Mendes, o mundo ainda não está em uma crise econômica. O que vivenciamos até o dia desse papo – 1º de abril, e tudo aqui é verdade! – é a maior retração econômica da história do capitalismo moderno com um choque de demanda como nunca visto.
A distinção conceitual entre esses dois fenômenos faz total diferença na hora de interpretarmos e avaliarmos o momento. Mercados lidam mal com incertezas e a intervenção do Estado tem agora como missão aumentar – ainda que pouco, mas significativamente – a previsibilidade do que estar por vir.
O sincronismo é fundamental agora porque cada decisão de governo envolve inúmeras variáveis para cada um dos dois focos de atuação: o epidemiológico e o econômico. União, Estados e Municípios se esforçam para preservar vidas, mas também empresas, empregos e renda. Temos hoje no país 38 milhões de pessoas na informalidade – entre cadastrados e não cadastrados em programas sociais – e uma enorme população em estado de vulnerabilidade. “Não deixar nenhum brasileiro para trás", consiste em ter uma atuação sistêmica e abrangente na proteção de todos esses entes sociais.
Uma rede de saúde bem articulada e pronta para responder às demandas da população deve coabitar preocupações relacionadas à preservação do crédito, do fluxo de liquidez para colocar o dinheiro nas mãos de quem precisa e na manutenção da credibilidade do sistema. É por isso que nunca dependemos tanto do setor público quando agora.
O Estado que teremos pós-Covid
Provocado por um participante da comunidade FDC que indagou se teríamos um inchaço irreversível do Estado, o professor Gilmar foi incisivo: teremos um Estado melhor do que aquele que entrou nesse processo e uma conta equivalente a 5% do PIB para pagar. E que vamos pagar! Mas o Estado que surgirá não será maior do que aquele que temos hoje.
Ainda segundo o professor, o Brasil está bem posicionado para retomar sua trajetória de crescimento após essa retração econômica e cita fatores objetivos. Primeiro, os juros negativos nas principais economias globais colocam o Brasil como opção de investimento estrangeiro e temos bons projetos (e muita demanda) por infraestrutura. No âmbito interno, as quedas da taxa SELIC farão com que capital especulativo migre para a produção. Isso reforça a crença que, dadas as informações disponíveis neste começo de abril de 2020, teremos uma curva de crescimento em “V".
Calma, persistência e trabalho
Cada vez mais, é impossível desassociar o setor público do privado na busca de soluções em situações de enorme pressão e incerteza. Esses dois agentes caminham juntos e se conectam de forma íntima e complementar, especialmente diante das transformações impostas. Nesse sentido, é importante destacar que essa é uma visão que a FDC compartilha e por isso, há anos, investe em pesquisa junto às melhores cabeças do país para desenvolver educação relevante para executivos de organizações públicas e privadas.
O professor Mendes ressalta ainda que esse é um momento que exige de líderes ambidestria estratégica, ou seja, capacidade de manejar os desafios emergentes, de curto prazo e, ao mesmo tempo, antecipar, planejar e agir com olhar no futuro. Essa é uma oportunidade não só para o Estado, mas para empresas, organizações públicas, do terceiro setor e indivíduos saírem melhores dessa jornada que, ao que parece, está só começando.
Se estratégia, finanças e cenários do setor público e privado te interessam, assistir à integra desse papo com o professor Gilmar é imprescindível. E é muito fácil também! Acesse o canal especial no Youtube e inscreva-se. Todos os dias, sempre às 16h, um novo conteúdo FDC para você!